Oyá / Yansan
Filha de Nanã. Ela é a deusa dos ventos, das tempestades, dos
tufões, dos elementos aéreos ligados ao relâmpago (ar + movimento = ao fogo). É
a deusa do rio Níger da África que em iorubá, chama-se Odò Oya. Comanda os eguns
(os mortos). Extrovertida e sensual como poucas. Foi a primeira esposa de Xangô.
Tinha um temperamento ardente e impetuoso. Destemida, justiceira e guerreira,
não teme a nada.
Registram-se, em literatura, 17 qualidades sendo as mais
conhecidas: Oya, Onyra, Bagam, Egunita, Benek, Cenou, Bomini e Muriai, a
Iansã-do-Bale que preside a festa dos Egun).
Lendas
... ventos e eguns
Conta umas das lendas de Iansã, a primeira esposa de
SÀNGÓ, teria ido, a seu mandato, a um reino vizinho buscar 3 cabaças que estava
com Obalúayé. Foi dito a ela que não abrisse estas cabaças, as quais ela deveria
trazer de volta a SÀNGÓ. Iansã foi e lá Obalúayè recomendou mais uma vez que não
deixasse as cabaças caírem e quebrarem e, se isto acontecesse, que ela não
olhasse e fosse embora. Iansã ia muito apressada e não aguentava mais segurar o
segredo. Um pouco mais à frente quebrou a primeira cabaça, desrespeitando a
vontade de Obalúayé. Saíram de dentro da cabaça os ventos que a levou para o
céus. Quando terminaram os ventos, Iansã voltou e quebrou a segunda cabaça. Da
segunda cabaça saíram os Eguns. Ela se assustou e gritou: Reiiii! Na vez da
terceira cabaça SÀNGÓ chegou e pegou para si, que era a cabaça do fogo, dos
raios.
Ela tinha um temperamento ardente e impetuoso. Foi a única entre as
mulheres de SÀNGÓ que , no fim do seu reinado, o seguiu em sua fuga para Tapá.
Quando ele recolheu-se para baixo da terra em Cosso, ela fez o mesmo em Yiá.
... a ira da mulher búfalo
Ogum foi caçar na floresta, como fazia todos os
dias. De repente, um búfalo veio em sua direção rápido como um relâmpago;
notando algo de diferente no animal, ogum tratou de segui-lo. O búfalo parou em
cima de um formigueiro, baixou a cabeça e despiu sua pele, transformando-se numa
linda mulher. Era yansan, coberta por belos panos coloridos e braceletes de
cobre. Yansan fez da pele uma trouxa, colocou os chifres dentro e escondeu-a no
formigueiro, partindo em direção ao mercado, sem perceber que ogum tinha visto
tudo. Assim que ela se foi, ogum se apoderou da trouxa, guardando-a em seu
celeiro.
Depois foi a cidade, e passou a seguir a mulher até que criou
coragem e começou a cortejá-la. Mas como toda mulher bonita, ela recusou a
corte. Quando anoiteceu ela voltou à floresta e, para sua surpresa, não
encontrou a trouxa. Tornou à cidade e encontrou ogum, que lhe disse estar com
ele o que procurava. Em troca de seu segredo ( pois ele sabia que ela não era
uma mulher e sim animal ), yansan foi obrigada a se casar com ele; apesar disso,
conseguiu estabelecer certas regras de conduta, dentre as quais proibi-lo de
comentar o assunto com qualquer pessoa.
Chegando em casa, ogum explicou
suas outras esposas que yansan iria morar com ele e que em hipótese alguma
deveriam insultá-la. Tudo corria bem; enquanto ogum saía para trabalhar, yansan
passava o dia procurando sua
trouxa.
Desse casamento nasceram nove
filhos, o que despertou ciúmes das outras esposas, que eram estéreis. Uma delas,
para vingar-se, conseguiu embriagar ogum e ele acabou relatando o mistério que
envolvia yansan. Logo que o marido se ausentou, elas começaram a cantar: "Você
pode beber, comer e exibir sua beleza, mas a sua pele está no depósito, você é
um animal." Iansã compreendeu a alusão. Depois que yansan encontrou então sua
pele e seus chifres. Assumiu a forma de búfalo e partiu para cima de todos,
poupando apenas seus filhos.
Decidiu voltar para a floresta, mas não
permitiu que os filhos a acompanhassem, porque era um lugar perigoso. Deixou com
eles seus chifres e orientou-os para, em caso de perigo deveriam bater os
chifres um contra o outros; com esse
sinal ela iria socorrê-los
imediatamente. E por esse motivo que os chifres estão presentes nos
assentamentos de yansan/oya.
... orisá do fogo
Embora tenha sido esposa de Sangô, Iansã percorreu
vários reinos e conviveu com vários Reis. Foi paixão de Ogum, Osogiyan e de Esú.
Conviveu e seduziu Osossi, Logun-Edé e tentou em vão relacionar - se com
Obaluaê. Sobre este assunto a história conta que Iansã percorreu vários Reinos
usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer
igualmente tudo. Em Irê, terra de Ogum foi a grande paixão do Guerreiro.
Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganhou deste o direito de usá-la. Depois
partiu e foi para Oxogbo, terra de Osogiyan .Com ele aprendeu o uso do Escudo
para se defender de ataques inimigos e recebeu o direito de usá-lo.Depois partiu
e nas estradas deparou-se com Esú. Com ele aprendeu os mistérios do fogo e da
magia. No reino de Osossi, seduziu o Deus da Caça, e aprendeu a caçar, a tirar a
pele do búfalo e se transformar naquele animal com a ajuda da magia aprendida
com Esú. Seduziu Logun-Odé e com ele aprendeu a pescar. Foi para o Reino de
Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e conhecer seu rosto. Lá chegando,
insinuou-se. Mas muito desconfiado, Obaluaê perguntou o que Oya queria e ela
respondeu:
-"queria ser sua amiga".
Então, fez sua Dança dos Ventos,
que já havia seduzido vários reis. Contudo, sem emocionar ou sequer atrair a
atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzí-lo, Iansã procurou apenas aprender, fosse
o que fosse. Assim dirigiu-se ao homem da palha:
-"Aprendi muito com os
outros Reis, mas só me falta aprender algo contigo."
- "Quer mesmo aprender,
Oya? Vou te ensinar a tratar dos Mortos".
Venceu seu medo com sua ânsia
de aprender e com ele descobriu como conviver com os Eguns e a controlá-los.
Partiu então para o Reino de Sangô, pois lá acreditava que teria o mais vaidoso
dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas ao chegar ao reino do Rei do
Trovão, Iansã aprendeu mais do que isso, aprendeu a amar verdadeiramente e com
uma paixão violenta, pois Sangô dividiu com ela os poderes do raio e deu à ela
seu coração. O fogo das paixões, o fogo da alegria e o que queima. Ela é o Orisá
do Fogo.
... o sopro
Osogyian estava em guerra, mas a guerra não acabava
nunca, tão poucas eram as armas para guerrear. Ògún fazia as armas, mas fazia
lentamente. Osogyian pediu a seu amigo Ògún urgência, mas o ferreiro já fazia o
possível. O ferro era muito demorado para se forjar e cada ferramenta nova
tardava como o tempo. Tanto reclamou Osaguiã que Oyá, esposa do ferreiro,
resolveu ajudar Ògún a apressar a fabricação.
Oyá se pôs a soprar o fogo da
forja de Ògún e seu sopro avivava intensamente o fogo e o fogo aumentado de
calor derretia o ferro mais rapidamente. Logo Ògún pode fazer muitas armas e com
as armas Osogyian venceu a guerra. Osogyian veio então agradecer Ògún. E na casa
de Ògún enamorou-se de Oyá. Um dia fugiram Osogyian e Oyá, deixando Ògún
enfurecido e sua forja fria. Quando mais tarde Osogyian voltou à guerra e quando
precisou de armas muito urgentemente, Oyá teve que voltar a avivar a forja. E lá
da casa de Osogyian, onde vivia, Oyá soprava em direção à forja de Ògún. E seu
sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Osogyian da de Ògún. E
seu sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o mais pelo
caminho, até chegar às chamas com furor atiçava. E o povo se acostumou com o
sopro de Oyá cruzando os ares e logo o chamou de vento. E quanto mais a guerra
era terrível e mais urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oyá a forja
de Ògún. Tão forte que às vezes destruía tudo no caminho, levando casas,
arrancando árvores, arrasando cidades e aldeias.
O povo reconhecia o sopro
destrutivo de Oyá e o povo chamava a isso tempestade.
... respeito
Oiá desejava ter filhos, mas não podia conceber Oiá
foi consultar um babalaô e ele mandou que ela fizesse um ebó. Ela deveria
oferecer um carneiro, um agutã, muitos búzios e muitas roupas coloridas. Oiá fez
o sacrifício e teve nove filhos. Quando ela passava, indo em direção ao mercado,
o povo dizia:
"Lá vai Iansã".
Lá ia Iansã, que quer dizer mãe nove vezes.E
lá ia ela toda orgulhosa ao mercado vender azeite-de-dendê. Oiá não podia ter
filhos, mas teve nove, depois de sacrificar um carneiro, e em sinal de respeito
por seu pedido atendido Iansã, a mãe de nove filhos, nunca mais comeu carneiro.
... corajosa e atrevida
Certa vez houve uma festa com todas as divindades
presentes. Omulu-Obaluaê chegou vestindo seu capucho de palha. Ninguém o podia
reconhecer sob o disfarce e nenhuma mulher quis dançar com ele. Só Oiá,
corajosa, atirou-se na dança com o Senhor da Terra. Tanto girava Oiá na sua
dança que provocava vento.E o vento de Oiá levantou as palhas e descobriu o
corpo de Obaluaê. Para surpresa geral, era um belo homem. O povo o aclamou por
sua beleza.
Obaluaê ficou mais do que contente com a festa, ficou grato e em
recompensa, dividiu com ela o seu reino. Fez de Oiá a rainha dos espíritos dos
mortos. Rainha que é Oiá Igbalé, a condutora dos eguns.
Oiá então dançou e
dançou de alegria para mostrar a todos seu poder sobre os mortos, quando ela
dançava , agitava no ar o iruquerê, o espanta-mosca com que afasta os eguns para
o outro mundo.
Rainha Oiá Igbalé, a condutora dos espíritos.
Rainha que
foi sempre a grande paixão de Omulu.